Forrest Gump: Entre o Amor e as Críticas
- Daniel Dante

- 20 de nov. de 2024
- 6 min de leitura
Sempre acreditei que fosse um senso comum que Forrest Gump é um filme universalmente amado — até assistir o filme É o Fim.
Para quem não se lembra ou nunca viu, essa comédia de 2013 acompanha um grupo de celebridades (interpretando versões fictícias de si mesmas) que ficam presas juntas enquanto o apocalipse se desenrola.
O filme reúne um elenco formado por estrelas da comédia dos anos 2000, como Craig Robinson, Seth Rogen, Jonah Hill e James Franco.
Logo no início do filme, há uma troca de diálogos cômica entre Emma Watson, Craig Robinson e Jay Baruchel sobre o universo hipster e os méritos de Forrest Gump:
(diálogo traduzido via ChatGPT)
Emma Watson (apontando para Jay Baruchel): "Olhem para ele, ele parece um hipster. Certo?"
Jay Baruchel: "Não. Não sou hipster. De jeito nenhum."
Craig Robinson: "Ah, mas parece que você odeia muitas coisas e a barra das suas calças é bem apertada."
Jay Baruchel: "Não, eu só... não gosto de Los Angeles. Só isso. Isso não me torna um hipster."
Craig Robinson: "Aposto que você odeia filmes que todo mundo ama."
Jay Baruchel: "Eu nem mesmo..."
Craig Robinson: "Você gosta de Forrest Gump?"
Jay Baruchel: "Não, não, é um pedaço de merda horrendo."
Esse é um dos diálogos mais marcantes do filme. Se em 2013, a cultura do MEME já estivesse no mainstream, essa cena com certeza seria lembrada por todos até hoje.
Certamente, ninguém que realmente assistiu Forrest Gump desgosta do filme. Esse filme tem de tudo: Tom Hanks, computação gráfica de ponta para a época, história incrível, camarões, 100 frases memoráveis, uma trilha sonora cheia de clássicos do rock, um piano marcante e absolutamente nenhum material que tenha envelhecido mal.
Mas, para minha surpresa, a hostilidade contra Forrest Gump é real.
Frequentemente, grandes veículos de mídia como Buzzfeed e BBC publicam artigos questionando a sua popularidade. Podcasters e críticos de cinema frequentemente usam Forrest Gump como saco de pancadas - um exemplo rápido de entretenimento pipoca que, segundo eles, não merece aclamação cultural.
Semana passada re-assisti Forrest Gump com minha sobrinha da geração Z e fiquei surpreso, que diferente das críticas que venho lendo, eu mantive meu apreço pelo filme e minha sobrinha também amou. E olha que estamos falando de um filme com estética e ritmo dos anos 90.
Será então que esse novo desgosto por Forrest Gump é fruto da mídia anti-Gump? Esse sentimento seria apenas um reflexo de segudiores de uma bolha de podcasters de cinema que decidiram ir contra o filme?
Resolvi investigar se esse clássico dos anos 90 ainda é "universalmente amado" e entender quem são as pessoas que têm opiniões positivas e negativas sobre esse blockbuster.
Infelizmente, no Brasil, não temos um banco de dados com pesquisas sobre percepções socioculturais de filmes, mas consegui alguns estudos americanos e podemos extrair alguns dados de redes sociais nichadas de cinema para conseguir levantar algumas hipóteses.
Alguém realmente não gosta de Forrest Gump?
Ao usar ferramentas como Answer the Public, realizar social listening no X (que sempre chamarei de Twitter) via Gelphi e investigar grupos de cinema no Facebook, conseguimos mapear a seguinte lista de reclamações sobre Forrest Gump:
A lista de queixas inclui argumentos de menor impacto e, em alguns casos, aparentam ser exagerados. No entanto, a onipresença de Forrest Gump o transformou em um alvo de re-exames implacáveis.
Mas será possível quantificar essa onda crescente de críticas?
Usando avaliações de usuários do MovieLens, é possível rastrear as classificações online de Forrest Gump ao longo do tempo, comparando mudanças no sentimento com outros lançamentos de destaque de 1994, como Pulp Fiction, O Rei Leão e Um Sonho de Liberdade.
Se a reputação de Forrest Gump tivesse se deteriorado, veríamos uma divergência entre sua classificação média e a de outros filmes conhecidos de 1994.
No entanto, não há tal divergência.
Não é possível quantificar uma mudança no sentimento das avaliações fora da tendência entre Forest Gump e os outros filmes lançados em 1994, mas talvez estejamos perdendo detalhes valiosos ao olhar apenas para médias gerais.
Felizmente existem pesquisas da YouGov e do Morning Consult que fornecem informações detalhadas sobre Forrest Gump e outros filmes, permitindo decompor a afinidade do público por uma segmentação comportamental e demografia.

Quando analisamos a posição de Gump em relação a outros clássicos, descobrimos que o vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1994 é amplamente "amado" e "apreciado" por muitos entrevistados e, surpreendentemente, tem poucos detratores.
Da mesma forma, uma pesquisa de 2023 do Morning Consult revelou Forrest Gump como o vencedor do Oscar de Melhor Filme mais popular de todos os tempos (classificado por favorabilidade líquida):
Forrest Gump (1994): 76%
Titanic (1997): 65%
Rocky (1976): 62%
O Poderoso Chefão (1972): 61%
Rain Man (1988): 57%
Essa mesma pesquisa classificou Forrest Gump como o segundo vencedor de Melhor Filme mais popular entre "cinéfilos", ficando atrás apenas de Titanic.
Ok, mas certamente essas pesquisas não têm granularidade. Deve haver um contingente quantificável de detratores de Forrest Gump, certo?
Talvez não.
Outra recentemente pesquisa, realizada com os eleitores americanos sobre suas preferências de filmes em relação aos candidatos presidenciais preferidos. Nos apresenta dados surpreendentes: Forrest Gump é o filme mais politicamente neutro, igualmente apreciado por eleitores de Trump e Harris.

Segundo esses dados, os EUA, um país notável por sua discordância em tudo, concorda em uma coisa: Forrest Gump.
Parece que os americanos simplesmente amam esse corredor de longa distância, obcecado por caixas de bombons e camarões.
Mas há mais! As pesquisas da YouGov e do Morning Consult descobriram que Forrest Gump é reverenciado por todas as demografias possíveis, incluindo: Gênero, Idade, Raça, Renda familiar e Região geográfica.
Essas estatísticas falam da ampla atração de Forrest Gump, mas não capturam um segmento crucial de cinéfilos com voz expressiva no discurso sobre cinema.
Mas então, quem são os detratores de Forrest Gump?
Até agora, não identificamos um grupo significativo de detratores de Forrest Gump. Mas se voltarmos ao diálogo do filme É o Fim que abre esse texto, temos um caminho para buscar esses detratores:
Emma Watson aponta para Jay Baruchel e diz: "Olhem para ele, ele parece um hipster." Talvez exista um grupo de "hipsters contrários" que não foi capturado pelos conjuntos de dados anteriores.
Se for o caso, onde poderíamos encontrar dados produzidos por esses autoproclamados não conformistas? Bem, o Letterboxd parece o lugar ideal.
Letterboxd, uma rede social para descobrir filmes, permite que usuários avaliem filmes, criem listas personalizadas e sigam outros usuários.
Se existe um lugar no mundo onde se encontrariam opiniões negativas sobre Forrest Gump, seria lá.
Segmentando os usuários do Letterboxd por popularidade, nota-se que os críticos mais seguidos tendem a dar classificações mais baixas para Forrest Gump e são responsáveis por uma parcela desproporcional de avaliações com uma ou zero estrelas.
Esse grupo inclui críticos de cinema, podcasters, blogueiros e influenciadores.
Reflexões finais: A alegria perdida de simplesmente assistir algo
Antes de iniciar este estudo, baseado nas últimas matérias e discussões que acompanhei, eu tinha a impressão de que boa parte das pessoas secretamente não gostavam de Forrest Gump. Estava convencido de que encontraria um dado espetacular que validasse essa percepção.
Porém, os dados contaram outra história. Eles mostraram que:
Minha percepção estava equivocada.
As críticas mais severas vêm de uma bolha de "cinéfilos hipsters", cuja influência não representa a maioria dos espectadores.
Esse exercício de análise me lembrou da importância de assistir a conteúdos audiovisuais com mente e coração abertos, formando nossa própria opinião antes de consultar sites como Rotten Tomatoes, Metacritic ou Letterboxd.
Quando nos deixamos influenciar exclusivamente por avaliações externas, corremos o risco de perder experiências que poderiam ser genuinamente prazerosas.
No fim das contas, acredito que nosso tempo de lazer seria muito mais satisfatório se priorizássemos o simples prazer de assistir a algo, sem nos prender a padrões autoimpostos de qualidade ou validação externa.
Forrest Gump pode não ser um filme perfeito, mas isso não invalida o impacto que ele teve — e ainda tem — em milhões de espectadores ao redor do mundo. Afinal, como diz a célebre frase do filme, "a vida é como uma caixa de chocolates; você nunca sabe o que vai encontrar".
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