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O Conforto da Mediocridade e a Luta pelo Mais

  • Foto do escritor: Daniel Dante
    Daniel Dante
  • 14 de dez. de 2024
  • 2 min de leitura

A rotina é uma cúmplice traiçoeira: seduz com sua comodidade e, no silêncio dos dias iguais, te emburrece. Não por ineficiência, mas pela sua habilidade cruel de excelência.

Isso acontece quando a rotina não desafia, apenas embala. Quando você se percebe "gastando" tempo precioso em um trabalho que não te move. Quando ganha a habilidade sombria de prever o amanhã monótono, esse é o sinal de que a excelência emburrecedora está em pleno vapor.

O que deveria ser o auge da competência tornou-se a trilha do declínio.

O sucesso, irônico e perverso, é muitas vezes o arauto do fracasso. Porque, sim, até mesmo nos trabalhos intelectuais, a mediocridade ronda. Ela não aparece de forma escancarada, mas se infiltra pelas rachaduras da especialização, afunilando nossos horizontes enquanto finge ampliá-los. A sabedoria no envelhecimento? Um mito.

Como alertou o bobo de Rei Leara tragédia é envelhecer sem sabedoria. E sabedoria, vale lembrar, é privilégio, não direito.

O emburrecimento que me incomodava era como um fruto maduro do sucesso. Quanto mais íntimos nos tornamos da rotina, mais ela se torna um abraço de veludo, seduzindo-nos ao desfalecimento. A mediocridade, com sua gravidade invisível, atrai tudo para o seu núcleo morno, onde a vida se dissolve em apatia.

Escapar disso exige esforço contínuo. Cada deslize, cada olhar vazio, cada refúgio em distrações confortáveis é um convite ao núcleo medíocre do mundo. A ignorância pode oferecer uma paz fácil, mas o preço é alto demais. 

No meu caso, não fui eu quem me salvou; o contexto me salvou. Linda frase para descrever uma demissão. Me lembrou o livramento da Bruna Marquezine na conversa com a Blogueirinha.

Essa ruptura me reconectou aos estudos — leitura, teatro, poesia, ida a museus, teoria. E hoje eu dissemino o antídoto: sempre há tempo para buscar mais. Mesmo para quem, por forças externas, está momentaneamente apático.

Outro dia, em uma conversa, alguém me perguntou: 

Mas Dante, gente medíocre não é mais feliz que gente inteligente?

Se a felicidade é viver sem perceber a própria mediocridade, talvez.

Mas e aqueles que, mesmo por um instante, vislumbraram o que poderiam ser? Pais mais presentes, amigos mais atentos, profissionais mais brilhantes, seres humanos mais inteiros?

A mediocridade só é confortável quando não se tem consciência de que há algo além dela.

Dedicar-se ao "mais" multiplica as dores e os prazeres. Passamos a nomear o que antes eram apenas sombras. Porque, no fundo, só precisamos de um vislumbre. Só precisamos acreditar que há mais.

E você, está disposto a olhar para além do confortável? Ou continuará orbitando o morno centro da mediocridade?


*Imagem da capa criada por inteligência artificial (MidJourney) para representar o tema do artigo.

 
 
 

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